Vaca

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Mas que porra eu estava fazendo pegando estrada em plena 3 horas da manhã? Por Deus, Tom. Você deve estar ficando maluco.
Acho que talvez apaixonado fosse a palavra correta. O que eu quero dizer é bem simples; a garota que eu amo está prestes a sair da cidade e eu nunca contei nada à ela. Claro, era algum tipo de amor platônico, talvez. 
Fazia um tempo que eu já observava aquela minha colega de classe. Beatriz é o nome dela. Acho que percebi que estava amando aquela ruiva quando comecei a pensar nela a mais do que uma... mulherzinha pra bater punheta. 
Ela deve ser uma vaca como as outras da classe, não é? Não, não é. Mas eu gostava de pensar assim. É melhor. Mas puta merda, eu não consigo ver um defeito nessa mulher. O modo como ela sorri - as covinhas que se formam e o jeito como fica corada - ou quando ela deixa a nuca exposta quando o seu cabelo está preso em um rabo-de-cavalo. Maldita seja. Sempre imaginei aquela nuca encontrando a minha boca enquanto minhas mãos passeavam naqueles seios perfeitos, assim como os seus lábios. 
Não conseguia enxergá-la como uma vaca, na verdade. Não conseguia vê-la como eu via as outras garotas da turma de ciências aplicadas. Mas eu preferia achar que ela era fútil, talvez assim eu não ficasse tão fodido como provavelmente - se caso eu a chamasse pra sair, conhecesse, me apaixonasse ainda mais - eu ficaria.
Ela não era assim. Acho que eu deveria ter tomado vergonha na cara e ter saído correndo atrás dela em um dos intervalos. O que era impossível, porque eu sempre tinha desejos sexuais por ela e do jeito que a minha calça estava... as coisas não iriam funcionar muito bem.
Acho que amava Beatriz. Deveria amar. E se eu a amava, deveria continuar dirigindo até a sua casa. Que por ventura eu sabia onde ficava por uma vez ter dado carona para ela e uma amiga sua. - Claro que nossa conversa não passou de um "oi, tudo bem?" e depois um "obrigada pela carona, Tom."
Tudo bem, Tom. Faça alguma coisa valer a pena. Se não der certo, pelo menos você falou o que tinha pra falar.

- Tom?! Minha nossa, você era a última pessoa pela qual eu esperava vir me visitar. - ela gesticulou para que eu entrasse em seu apartamento.
- Então, acho que eu não vou demorar por aqui. Eu só vim te dizer uma coisa. - eu disse meio nervoso.
- Ah, tudo bem... - sentou-se no seu sofá de couro.
- Mas que porra eu tô fazendo? Beatriz, olha, eu... nós nunca nos falamos direito, mas eu sempre gostei de você. Eu sempre tive um desejo por você. Eu sempre quis ir além com você... Conhecer os seus gostos, passear por aí. Sei lá. Sentir o seu gosto. - tive a cara de pau pra falar tamanha merda.
- Talvez você não fosse o único. - ela estava bêbada? 
- Talvez...
- E talvez você não tenha percebido que eu via você excitado e me olhando com um olhar de puro desejo nas aulas. Talvez eu parecesse distraída, Tom. Mas eu não sou tão ingênua como você pensa. - ela se levantou do sofá e veio ao meu encontro. Ficando a centímetros da minha boca.
- Nunca pensei que você fosse ingênua, na verdade. - eu disse, por fim.
- Queria ter conhecido mais você. Poderia começar te conhecendo fisicamente. - então ela me beijou. Ou eu a beijei. De qualquer forma, era intenso. Quente. Desesperado.
Talvez ela fosse uma vaca, na verdade, ela era muito gostosa. Se ela fosse uma vaca, ela seria uma vaca sagrada pra mim.